quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Desencanto



Era o tempo vazio de esperança que me confundia.
Semelhança tardia com o tempo da dança,
do rodopio inebriante e fictício,
de uma vida forjada no vício.

Agora era a névoa sobre os corações.

Até que uma porta se abriu...
mas ninguém entrou e ninguém saiu.
Ficou aberta à espera de um gesto.

Depois ouviu-se o ranger da madeira carunchosa.
O resto?  - O resto é a história lamuriosa de quem por ali passou:   
um certo pássaro curioso, que a curiosidade ali deixou e fugiu, 
um pastor que não tinha rebanho, só tocava flauta,
bichos do mato,
um vira-lata,
e eu.

Sim, também lá estive, à porta do desencanto.
Se sobrevivi para contar a história?
Sim, porque fingi.
Vi estrelas no céu nublado,
vi flores em jardins inférteis
vi a luz em todo o lado,
fiz o sonho ditar as leis!

escrito em 1991