quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Cultura de internauta, sim!



Com a massificação do uso da internet e das chamadas redes sociais, hoje em dia, surgiram também muitos “Velhos do Restelo” que se manifestam contra um certo tipo de “cultura-fast-food” que prolifera na rede, em citações de todo o tipo, cuja autoria nem sempre é atribuída ao seu verdadeiro autor.

Questionam também a legitimidade de se partilharem frases, pensamentos ou excertos de textos, cujos textos integrais são desconhecidos da maioria daqueles que fazem essas partilhas. É uma espécie de "cultura-fast-food”, dirão alguns, criticando as actuais gerações por não terem um conhecimento aprofundado dos clássicos da literatura universal, mas ainda assim terem a “lata” de partilhar excertos desses clássicos sobre os quais nada sabem.

Eu assumo que sou uma dessas internautas. Partilho frases e excertos de textos que me fazem sentido pelo seu conteúdo e não porque foram escritos por A, B ou C.

É verdade que hoje em dia, serão muito poucos aqueles, que sabem citar de cor longos excertos de Shakespear ou de Fernando Pessoa, mas são muitos os que partilham na net curtas frases atribuídas a estes e outros autores.

Gostaria então, de deixar aqui uma palavrinha para os ditos “Velhos do Restelo”, que sempre surgem e se manifestam perante o que é novo e diferente.

Por um lado, os tempos que vivemos são diferentes. A quantidade de informação a que estamos expostos ao longo de um só dia, provavelmente equivale à quantidade de informação, que há apenas algumas décadas, se recebia ao longo de uma ou várias semanas. O tempo acelerou. A forma como acedemos e seleccionamos informação alterou-se obrigatoriamente em função disso. Não há como trazer para o presente os hábitos de leitura tão enaltecidos no passado e tão saudosamente recordados ainda hoje por alguns. O tempo caminha velozmente e sempre em direcção ao futuro, nunca em direcção ao passado.

Por outro lado, vivemos um momento histórico único. Estamos à beira de uma gigantesca mudança a nível mundial. Essa mudança pode ser para melhor, se agirmos rapidamente e fizermos tudo o que estiver ao nosso alcance, ou para pior se nada fizermos e nos limitarmos a deixar o tempo passar. Há no ar uma urgência quase palpável e perceptível por muitos de nós. Não há tempo a perder.

Sabemos hoje que, para que uma mudança para melhor aconteça, precisamos que 10% da população mundial (massa critica) se sintonize com novas ideias e formas de pensar. Algumas dessas ideias não são de facto novas. Muitos no passado já falaram e escreveram sobre elas, mas foram poucos aqueles que lhes aderiram, em grande parte devido ao facto de os seus autores estarem muito à frente do seu tempo. Mas o tempo chegou. Hoje muitas das ideias que não vingaram no passado, estão maduras o suficiente para darem frutos. E é por isso que é tão importante e mesmo URGENTE partilhar, difundir e debater essas ideias. Não há tempo a perder. Não há tempo para lermos todos os clássicos e perdermo-nos em dissertações mais ou menos filosóficas e mais ou menos vãs. Este é um tempo de grandes mudanças que requer acção ágil e rápida da parte de todos nós.

Assim, quando partilhamos uma frase pelo seu conteúdo, podemos sim estar a atribuí-la erradamente a outro autor e podemos desconhecer totalmente o texto integral de onde foi retirada, mas se o seu conteúdo influenciar positivamente alguém, ou muitos, estamos a fazer mais pelo mundo do que faríamos sabendo citar de trás para a frente a Ilíada de Homero.

Os tempos mudam. Tudo à nossa volta está em constante mudança, e só quem se mantém refém de uma mente fechada e inflexível é que não consegue perceber a urgência do momento actual.

A internet, como tudo, tem o seu lado menos bom, mas graças a ela, hoje, podemos difundir uma ideia em apenas alguns minutos para o mundo inteiro. Se escolhermos aquilo que partilhamos, com base na qualidade do seu conteúdo, em vez de nos preocuparmos tanto com os detalhes da forma e do estilo, estamos a agilizar o processo de mudança de mentalidades, pelo qual o mundo anseia desesperadamente. E isto, não pode não ser uma coisa muito importante e muito positiva!

Não defendo contudo, que não devamos ler e falar sobre bons livros e bons autores, mas sei que muitas vezes uma simples frase tem mais impacto do que um livro completo. Importa sermos flexíveis e não cairmos em fanatismos dogmáticos.

Quanto ao facto de uma frase de Buda ser atribuída a Einstein, ambos já morreram há muito. Acho que não virão reclamar direitos de autor. 

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