quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Sobreviver à Ciência


Não, não estamos no mês de "bater-na-ciência" mas vem a propósito.

Este é um LIVRO que descobri recentemente, da autoria de Jean-Jacques Salomon, editado pela "Instituto Piaget Editora".

Uma reflexão que merece ser lida e da qual deixo aqui a sinopse para abrir o apetite:


"Pode-se estabelecer um paralelo entre o século XVI e a nossa época do limiar do século XXI. O século XVI e o século XX assistiram a transformações, guerras e tumultos, e neles se jogou, além do destino da Europa, uma certa ideia do homem. Em ambos, houve uma procura de novas convicções, no primeiro, a transição da Idade Média para o Renascimento e, no segundo, a transição da idade da indústria para a civilização do imaterial, do virtual. De uma época para a outra, passou-se de um mundo onde a imagem de Deus era omnipresente para outro em que desapareceu a própria ideia de Deus; de uma crença numa vida para além da morte, para uma ausência de recurso para as injustiças ou os sofrimentos da vida, que a fé na ciência tenta em vão substituir. Esta religião da ciência e do progresso, que surgiu com a revolução industrial, desenvolveu-se principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial. A partir desta altura houve uma mudança considerável do estatuto do cientista. Até então os sábios (como eram chamados) viviam numa espécie de torre de marfim, trabalhando em pesquisas «puras», cujas aplicações não lhes diziam respeito. [...] Estamos no fim de uma época, mas não no fim da história. A ciência aumentou sem dúvida o bem-estar pelo menos de uma parte da humanidade, mas ao mesmo tempo cava-se um fosso cada vez maior entre países ricos e países pobres e entre populações dentro de um mesmo país. É preciso criar um mundo novo, um mundo em que a procura do bem-estar social (isto é, para toda a sociedade) se sobreponha à ideologia do progresso custe-o-que-custar e às miragens por ela fabricadas. Sobreviver à ciência é voltar a um humanismo guiado pelo princípio de precaução, que nos permita afrontar o novo século XXI como se este fosse um novo Renascimento."

4 comentários:

Manuel Rocha disse...

Olá Pink !

Tão certa quanto utópica esta sinopse. A conflitualidade faz parte da nossa essência e no processo mais vasto das disputas do poder, a ciência é uma arma como outra qualquer e duvido que isso mude nos próximos tempos.

A história é sempre um bom recurso literário para as analogias da nossa prosa, mas pressinto que a utilidade dos paralelos que se possam estabelecer acabem por aí. Cada momento da história é um encontro único de circunstãncias irrepetíveis, mesmo se quando vistas à posteriori nos parecem semelhantes e tendecialmente convergentes no mesmo tipo de resultados.

Fernando Dias disse...

Concordo com esta ideia de ciclos pontuais de viragem ou de passagem de uma época paradigmática para outra. Admito que há indícios de estarmos a atravessar o fim de uma época à semelhança do que a História nos mostra em relação a outras épocas que já passaram. Mas isto não passa de uma opinião, e admito que a opinião de Manuel Rocha também pode ser válida.

antonio ganhão disse...

Sigo esse profeta. Também defendo que temos que voltar aos valores do homem, da sua dignidade e bem estar social.

Embora fique muito feliz por ver o mérito reconhecido e o Armando Vara como vice do BCP.

Fátima Lopes disse...

Olá a todos!
Obrigada pelos vossos comentários.

Manuel,

Compreendo o seu ponto de vista e concordo que a História não se repete do mesmo modo que "não tomamos banho duas vezes no mesmo rio". No entanto, a História também se faz em ciclos (ou em espiral)voltando por vezes a pontos de partida anteriores e re-incorporando antigos conceitos nos preceitos modernos, expandindo-os. Claro que são transformações progressivas, em várias frentes e prolongadas no tempo, que só serão visíveis a uma distancia temporal considerável. O que eu acredito é que estamos neste momento a iniciar um novo ciclo. Creio que a "tempestade" já começou mas ainda não vislumbramos o seu epicentro nem podemos calcular com acuidade o valor dos "estragos" ou da "bonança". Pressinto que os próximos tempos serão turbulentos mas tenho fé que seremos capazes de construir um futuro mais humanista.

F.Dias,
De facto o Manuel tem razão numa coisa, a ciência é uma arma e poderosa. Mas como todas as armas é accionada pelos Homens. A minha esperança é de que a mudança se dê nos meandros da mente de quem opera esta "arma" chamada ciência.

António,
Somos dos que ainda têm esperanças, por isso regozijamo-nos com os que as consideram possíveis e mais ainda com os que apontam os caminhos para a sua realização. Eu que tenho alma de poeta dou por mim, invariavelmente, a acreditar que "o sonho comanda a vida".

Quanto ao Armando Vara, pelo que percebi, já conta com vários apoiantes...;)