quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Tabaco - A Maior Hipocrisia II

Parece que poucos entenderam o sentido do post anterior, por isso aqui fica o esclarecimento, que espero seja suficiente e definitivo quanto à sua essência.


Vamos por partes.

HISTÓRIA DO TABACO

"Parece que o hábito de se fumar foi introduzido primeiro em Inglaterra, em 1585 por sir Francisco Drake, que de volta da Virgínia, propagou e ensinou a manipular o tabaco, segundo o processo dos naturais daquela região. Então abriu-se a primeira casa de venda para o consumo da planta em França, e em Espanha supõe-se ser o uso do tabaco de fumo, devido a um frade espanhol, residente muitos anos na ilha de S. Domingos. O gosto da substância fornecia grandes proventos aos estados apesar de se reconhecer que era pernicioso ao organismo. Parece que foi no principio do século XVII, pouco mais ou menos, que em Portugal começou o seu consumo com uma certa importância sempre crescente, dando origem a um pequeno imposto arbitrado pelo rei, imposto este, que foi dia a dia aumentando com a gradual progressão dos lucros, que os comerciantes auferiam. Antes da aclamação de D. João IV, o contrato do tabaco foi arrematado pelo espaço de 3 anos na corte de Madrid, por um português em 40$000 reis por ano; passado esse prazo, Inácio de Azevedo, também português, o ajustou por 60$000 reis, mas tendo falecido, passou de novo o contrato ao primeiro. O acrescimento foi subindo de ano para ano, e em 1640, foi o contrato arrematado por 10:000 cruzados, e em 1674, por 66:000 cruzados. Do ano de 1675 em diante rendeu o tabaco 500:000 cruzados até um 1 milhão de cruzados, e no anuo de 1698 aumentou o dito contrato a 1 milhão e 600:000 cruzados e finalmente nos anos de 1707 e 1708 o castelhano D. João António de la Concha trouxe o contrato do tabaco arrendado por 2 milhões e 200.000 cruzados, em cada ano, não com pequena admiração da prodigiosa química, com que pó e fumo, em prata e ouro se convertiam. Assim se conservou algum tempo, para do novo retomar o aumento progressivo e chegar afinal à importância de 1520 contos anuais, que foi o preço do contrato que findou em 1864. Tendo sido abolido por lei das cortes o monopólio do tabaco a contar do 1º de Janeiro de 1865, foi posto em praça publica o contrato pelo segundo se mestre de 1864, e arrematado por uma companhia, juntamente com o edifício, maquinas e utensílios da fabrica, por 1:410$500 reis. A companhia havia sido instalada em 1845, por, ordem do governo, no edifício do antigo convento de Xabregas. Ao princípio foi este monopólio arrendado sem concorrência. Depois introduziu-se o uso de se dar em arrematação em praça pública a quem oferecesse maior lanço, para o que se organizavam companhias de capitalistas."

Estado
é uma instituição organizada politicamente, socialmente e juridicamente, ocupando um território definido, normalmente onde a lei máxima é uma Constituição escrita, e dirigida por um governo que possui soberania reconhecida tanto interna como externamente. Um Estado soberano é sintetizado pela máxima "Um governo, um povo, um território". O Estado é responsável pela organização e pelo controle social, pois detém, segundo Max Weber, o monopólio legítimo do uso da força (coerção, especialmente a legal).
Pasted from <http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado>

"A origem da palavra sociedade vem do latim societas, uma "associação amistosa com outros". Societas é derivado de socius, que significa "companheiro", e assim o significado de sociedade é intimamente relacionado àquilo que é social. Está implícito no significado de sociedade que seus membros compartilham interesse ou preocupação mútuas sobre um objectivo comum. Como tal, sociedade é muitas vezes usado como sinonimo para o colectivo de cidadãos de um país governados por instituições nacionais que lidam com o bem-estar cívico."
Pasted from <
http://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade>

Posto isto, e como o título do post remete para a hipocrisia, convém também falar sobre ela, de preferência no contexto em que se insere o tema do post, ou seja, o terreno politico-social. Aconselho por isso a leitura deste artigo: Reflexões Sobre a Natureza do Poder Politico: O Problema da Hipocrisia de onde cito apenas este pequeno excerto:

"A tendência à burocratização do Estado e da empresa capitalista e o processo
de secularização - apontados por Weber - correspondem ao avanço da razão instrumental que resulta na perda da liberdade do homem. A eficiência e o êxito
desejados tornam-se quiméricos, uma vez que os meios adoptados pela razão instrumental não são orientados por princípios éticos. A lógica cega da burocracia e razão racionalista cientifica produzem grandes irracionalismos, extremamente perigosos aos homens, como as grandes armas de aniquilação que podem destruir o planeta."


E já que a existência do Estado pressupõe uma Constituição, espreitemos a nossa:

"
Artigo 60.º (Direitos dos consumidores)
1. Os consumidores têm direito à qualidade dos bens e serviços consumidos, à formação e à informação, à protecção da saúde, da segurança e dos seus interesses económicos, bem como à reparação de danos."
Falando em Direitos do Consumidor, vamos a eles:

"CAPÍTULO II
Direitos do consumidor
Artigo 3.º
Direitos do consumidor

O consumidor tem direito:
a) À qualidade dos bens e serviços;
b) À protecção da saúde e da segurança física;


Artigo 5.º
Direito à protecção da saúde e da segurança física

1-
É proibido o fornecimento de bens ou a prestação de serviços que, em condições de uso normal ou previsível, incluindo a duração, impliquem riscos incompatíveis com a sua utilização, não aceitáveis de acordo com um nível elevado de protecção da saúde e da segurança física das pessoas.

2- Os serviços da Administração Pública que, no exercício das suas funções, tenham conhecimento da existência de bens ou serviços proibidos nos termos do número anterior devem notificar tal facto às entidades competentes para a fiscalização do mercado.

3- Os organismos competentes da Administração Pública devem mandar apreender e retirar do mercado os bens a interditar as prestações de serviços que impliquem perigo para a saúde ou segurança física dos consumidores, quando utilizados em condições normais ou razoavelmente previsíveis."
Pasted from <
http://www.verbojuridico.net/legisl/1990x/l96_024.html>


No post anterior apresentei uma artigo sobre a dependência química provocada pela nicotina. Mas talvez não tenha sido suficiente. Por isso, apresento-vos agora um estudo clínico que compara os níveis de dependência de várias drogas, entre as quais a nicotina. Vejam aqui


CONCLUSÃO:

O tabaco mata! e quando não mata mói!
Logo, não é um bem de qualidade,
Nem faz bem à saúde antes pelo contrário,
A nicotina é uma droga,
Considerada aquela que causa maior grau de dependência física e psíquica,
A dependência faz aumentar o seu consumo,
Os Estados (do mundo inteiro), os mesmos que assumem poderes de protecção dos seus cidadão sabem disto através da Organização Mundial de Saúde,
As tabaqueiras fazem de tudo para aumentar a dependência do tabaco. É noticia de jornal.
A maioria dos fumadores quer deixar de fumar mas não consegue,
Ao contrário dos tóxico-dependentes de drogas duras, os fumadores não podem "fugir" das zonas da droga porque ela está em todo o lado e é legal,
Os Estados alertam para os perigos mas continuam a arrecadar o chorudo imposto,
Os que ainda são jovens podem beneficiar dos alertas e da proibição da publicidade e de fumar em espaços públicos, para não começarem a fumar,
Mas aqueles que começaram há décadas atrás, quando fumar era promovido como um hábito de gente com estilo e actores de cinema, esses, agora estão presos na armadilha do vício. Para eles de pouco ou nada servem os rótulos ou mesmo as imagens assustadoras.


Que nome se dá a um Estado e a uma Sociedade que defendem tudo quanto são direitos dos indivíduos e simultaneamente fabricam um produto para consumo humano, com o aviso "ISTO MATA"?


Seria mais honesto matarem-me com um tiro no peito!


Para os interessados, um livro:"O Cigarro"


"Este livro tem uma ambição prosaica: tenta resumir a história do cigarro com base nos conflitos entre a ciência e a indústria, entre o prazer e o risco. Parte de fatos recentíssimos (a revelação de milhares de documentos secretos dos fabricantes de cigarros nos EUA a partir dos anos 90, documentos estes praticamente desconhecidos no Brasil), passeia pelos 40 anos de mentira da indústria, retrata como nosso país entrou nessa briga, mostra que o antitabagismo tem 500 anos e discute qual o futuro da droga que, ao lado da cafeína, é a mais popular da história - ela seduz um quinto do planeta e tem vendas de US$ 300 bilhões por ano. "

12 comentários:

antonio ganhão disse...

O luto é sempre penoso. Se toda esta catarse te ajuda...

Não te aconselho a ler o meu post sobre este assunto, senão quem leva um tiro sou eu...

Manuel Rocha disse...

O argumentário está muito bem construido. Excelente mesmo. Gostei particularmente do recurso à Constituição, "romance" de que muitos falam mas que poucos conhecem....:)
Mas atenção ao seguinte. A Constituição estabelece grandes principios norteadores. Cabe depois aos poderes instituidos traduzi-los. E existe um equilibrio precário, que a meu ver deve ser gerido com critério, entre legislação e regulamentação de questões especificas ( tabaco p.e. )e questões centrais de direitos, liberdades e garantias.
Por principio,gosto de ter cuidado com estas derivas porque depois do tabaco vem o café, segue-se o sal, depois tudo o que não faz bem aos diabéticos ( e como sabes há produtos que para um diabético são venenos...)e acaba-se a prender a mãe que tem um filho obeso e com a filha a denunciar o pai por ser simpatizante do Bin Ladem !

Dirás com razão que são questões diferentes. Dirás ainda que a história não se repete. Concordo com isso. Mas se a memória servir para alguma coisa teremos que ter em conta que "á lei seca" se seguiu a "caça às bruxas", tudo no país que continua a proclamar-se o campeão dos direitos, liberdades e garantias e que enquanto proibe o fumo, tem cidadãos de outros países presos á revelia de qualquer direito !!

Portanto, muito cara Pink, continuo a pensar que estas coisas se resolvem pelo reforço da capacidade civica. Hipocrisia do Estado ? Sim ! Mas há mais ! Também pagamos imposto de circulação para usar estradas esburacadas ou sem drenagem...::))

Posto isto não resisto a voltar ao principio: belissima defesa de honra !
:))

antonio ganhão disse...

Nota: o luto a que me refiro é naturalmente o fim de um certo estilo de vida...

Fátima Lopes disse...

António,
nem de propósito: acabei de publicar um post sobre Plutão (morte e renascimento, catarse, transformação) ;)

Manuel,
Eu não defendo a proibição do tabaco, defendo que se acabe com ele. Porquê? porque faz mal a todos até aos que não fumam, conforme sabemos e que resultou na recente lei do tabaco.
Para já, ainda estamos num estágio, enquanto humanidade, em que precisamos ser conduzidos para o que é mais correcto. Mas tenho fé que virá o dia, tarde ou cedo, em que saberemos por nós próprios fazer as escolhas mais acertadas. Ainda somos como crianças a exprimentar o fogo para aprendermos que queima mas não poderemos ser crianças para sempre.

Manuel Rocha disse...

Acabar com o tabaco ? Sim ! Porque não ? E com a fome, a guerra, a miséria, a exploração, o racismo, a xenofobia...

Repare, Pink, que sou dos que acreditam que o seu "homem novo" se faz nas pequenas acções ou omissões concretas do quotidina. Mas, sabe, ainda apanhei umas réstias de 68, duma utopia em que se queria que fosse" proibido proibir"! Por isso sou contra os proibicionismos e por uma cultura de ética e uma praxis civica...

Ainda não me convenceu...::)))Mas está a esforçar-se muito bem...::)))

Fátima Lopes disse...

Manuel,
Eu compreendo-o a si e à sua geração mas dê-me o beneficio da dúvida quando lhe digo que as coisas vão mudar. Já começaram a mudar. Está a ocorrer por todo lado um certo renascimento "hippie", com novas roupagens, nem sequer dão muito nas vistas, alguns até se parecem com "yupies" mas é só na aparência. Esta mudança vai ser diferente daquelas a que estamos habituados. Ela está a germinar dentro das pessoas, não vêm de fora de algum tipo de movimento organizado ou imposto mas vai ter impactos no exterior, não tenha dúvidas.

Manuel Rocha disse...

Dúvidas ?!

Eis a única coisa que tenho em grande abundância, contrariamente ao que me acontecia há trinta anos em que era um oceano de certeza :::))))

Hippies e Yupies ?!

Prefiro os primeiro mas nenhum deles me fez género ...::))

Mundança a germinar ?!

Onde ?!

Se souber diga-me que eu vou lá e fico a regar a ver se cresce pelo menos sem sede....::))

Semper Pink !

Fátima Lopes disse...

Manuel,

Com essa falta de fé não vamos lá... :(

Fátima Lopes disse...

Olá de novo Manuel,

Nem de propósito acabei de visitar o blog de um amigo meu, onde ele fala de um estudo recente sobre AS Novas Tendências na Sociedade Portuguesa. Isto é apenas uma pequena amostra do que estou a tentar dizer-lhe:

RTP

jornaldenegocios

Manuel Rocha disse...

Então a menina acusa-me de falta de fé e depois manda-me ver coisas que ainda me deixam pior ?!

Mais hedonismo, mais individualismo, mais sociedade fragmentária e, the last but not the least, mais "relativismo sexual"?!

Oh, Blue, até fiquei pink !!

:))

Olhe, estou como o outro, não sei por onde vou, mas sei que não vou por ali !

:))

Quanto à fé, em verdade me confesso: não sou homem de fè ! Herança do meu avô ( mais uma ) que tinha dessas questões sensato afastamento.

Mas isso não quer dizer que não lute por causas e por aquilo em que acredito, ou não se nota ?

:))

PS: Coitado do Plutão ! Fiquei chocado !...:)

Fátima Lopes disse...

Não é hedonismo Manuel, nem individualismo, isso é adjectivo de jornalistas que não sabem do que falam e acham que tem de dizer alguma coisa para compor o texto.

O que há é desinteresse puro pelo que não funciona e como já se nota no final do artigo do jornal de negócios, o que não funciona, sofrendo desse desinteresse vai ter de fazer algo para mudar, boa? Desta vez não é pela força, não é pelas armas é pela atitude. "Querem conquistar-nos? Então mostrem-nos o que valem" é este o grito das novas gerações. Resta saber quando ele começará a ser ouvido. Mas olhe que o som do silêncio pode por vezes ser ensurdecedor. ;)

Manuel Rocha disse...

Agora a sério : que acha exactamente que merece relevo naqueles textos ?

Se preferir responda-me para o mail, quando tiver tempo.