sábado, 1 de fevereiro de 2014

A minha manhã de Sábado...


Tinha curso. Hoje tinha a segunda aula do curso de "Desenvolvimento Transpessoal". 
Sai de casa ainda cedo, para ir levantar dinheiro ao multibanco, para pagar a mensalidade. 

O curso é na Rua D. Estefânia, em Lisboa. Cheguei em cima da hora e comecei a procurar estacionamento, mas depois de muitas voltas ao quarteirão, desisti. Era impossível estacionar ali. Fui então em direcção ao Saldanha, onde sabia que iria ter lugar no parque, e estacionei. 

Enquanto tentava pôr moedas no parquímetro, sou abordada por um jovem, que vendia a revista "CAIS". Disse-lhe que não tinha moedas para a revista porque precisava delas para o parquímetro. Ele afastou-se.
Depois de colocar algumas moedas, percebi que o limite eram duas horas e eu iria ficar ali o dia todo. Fiquei irritada, pois já estava meia hora atrasada e ainda teria de interromper o curso para ir pôr mais moedas no parquímetro. Pensei: - "Vou-me embora, desisto, vou faltar ao curso e voltar para casa". Quando voltava para o carro vi ainda o rapaz e chamei-o. Já que não ia ficar, podia comprar-lhe a revista. Ele falou num sotaque que eu não conheci. Perguntei-lhe de onde era e ele respondeu: - "Sou da Moldávia"
"Não tenho dinheiro para comer. Tenho menino em casa doente e não tenho dinheiro para bilha de gás. Pago 300 euros de renda e falta pagar 50 euros." Abriu a carteira e mostrou-me os recibos da renda que confirmavam o que acabava de dizer. Contudo, reparei num pormenor, a morada era na mesma rua onde eu vivi durante toda a minha adolescência. Mais concretamente no prédio ao lado.

Perguntei-lhe se tinha fome, se eu podia levá-lo a comer alguma coisa. Ele agradeceu mas disse que precisava mais de comida para a família. Se eu pudesse ir com ele ao Continente, ali perto, comprar algumas coisas...Tinha a barba por fazer porque não tinha gillettes e de comida, em casa, só tinham bolachas...

Pensei com os meus botões: "Este homem precisa de ajuda e se eu estou aqui não é por acaso. Vou ajudar naquilo que puder."  

Fomos ao Continente e comprámos as gillettes, champô, gel de banho, fruta, carne, iogurtes, massa e óleo. Foi o que ele disse que precisava mais. Também lhe dei quase todo o dinheiro que tinha comigo. Disse-lhe para comprar a bilha de gás. 

Depois perguntei-lhe como iria levar as compras. Ele disse que ía a pé até ao comboio mas eu ofereci-me para lhe dar boleia até casa, já que ficava em caminho, só tinha de fazer um pequeno desvio. 

No caminho conversámos. É órfão e foi criado num orfanato onde conheceu a mulher. Veio para Portugal há 4 anos porque lhe disseram que aqui havia trabalho. Na Moldávia não tem nada. Nem casa, nem família. Tem uma menina de 8 anos e um menino de 5, que sofre de bronquite asmática. A mulher trabalhava em limpezas mas actualmente está sem emprego. Tal como ele, que trabalhava como servente de pedreiro. Agora vende a "CAIS" mas o dinheiro é muito pouco...

Disse-me com os olhos marejados de água: - "Foi Deus que colocou a senhora no meu caminho hoje". Emocionei-me. De facto, Deus actua de formas misteriosas. Se eu tivesse encontrado estacionamento mais perto do curso, se não tivesse andado quase meia hora às voltas, nada daquilo teria acontecido. E ali estava eu, a ajudar um perfeito estranho que, sabe-se lá porque estranha coincidência, mora no prédio ao lado do sitio onde eu morei tantos anos...

Quando chegámos, perguntou-me se eu queria conhecer a casa dele. Eu aceitei o convite. Um apartamento T1, como são quase todos naquela zona, mas limpo e acolhedor. Fui recebida por uma esposa jovem, de cara alegre e redonda e por duas crianças sorridentes e bonitas.

A mobília exígua e pobre, deixa transparecer as dificuldades, mas os rostos estão alegres de agradecimento: "Muito obrigada. Muita saúde para a senhora e para a sua família." 

O mais pequeno não tem brinquedos. Gostava de ter um brinquedo. Eu digo que não tenho crianças mas vou ver o que se arranja.

Deixo o meu contacto e preparo-me para sair. Sou acompanhada pela jovem mulher até ao rés do chão. Na despedida volta a agradecer-me e diz que precisava de sapatos para o menino. "Ele não tem sapatos. Quando saio tenho de o deixar em casa porque ele não tem sapatos." Despeço-me dizendo - "Vou ver o que posso fazer." 

E saio do prédio, escondendo as lágrimas, a pensar em como posso eu ajudar aquela família...

Não fui ao curso e gastei mais dinheiro do que podia, para ajudar aquele homem e a sua família, mas senti-me a pessoa mais feliz do mundo pelo simples prazer de ajudar.

Alguns poderão dizer ou pensar: - tanta família portuguesa a precisar de ajuda e esta vai logo ajudar uma família de romenos! Pois foi esta a família que Deus colocou no meu caminho. Não fui eu que escolhi. Se acreditarmos que Deus sabe o que faz, está tudo certo. Está sempre tudo certo se pararmos de julgar e nos deixarmos conduzir.

E aproveito para deixar aqui o apelo: se alguém souber de um emprego para ele ou para ela por favor contactem-me para hopeinsunrise@hotmail.com. Roupas e brinquedos para as crianças acho que consigo arranjar. Obrigada.


2 comentários:

AP (",) disse...

Solidariedade,ajudar o próximo é algo que em todos os corações devia existir, mas em poucos isso acontece, não é por seres minha irmã...mas...só tu para teres essa determinação, essa garra que eu tanto aprecio e amo :) Parabéns mana e conta comigo no que puder vou ajudar.

alf disse...

Essa foi a melhor aula de desenvolvimento transpessoal que podias ter ;-)