Era o tempo vazio de esperança que me confundia.
Semelhança tardia com o tempo da dança,
do rodopio inebriante e fictício,
de uma vida forjada no vício.
Agora era a névoa sobre os corações.
Até que uma porta se abriu...
mas ninguém entrou e ninguém saiu.
Ficou aberta à espera de um gesto.
Depois ouviu-se o ranger da madeira carunchosa.
O resto? - O resto é a história lamuriosa de quem por ali passou:
um certo pássaro curioso, que a curiosidade ali deixou e fugiu,
um pastor que não tinha rebanho, só tocava flauta,
bichos do mato,
um vira-lata,
e eu.
Sim, também lá estive, à porta do desencanto.
Se sobrevivi para contar a história?
Sim, porque fingi.
Vi estrelas no céu nublado,
vi flores em jardins inférteis
vi a luz em todo o lado,
fiz o sonho ditar as leis!
escrito em 1991