sexta-feira, 26 de setembro de 2014

A Astrologia e o "sabe-tudo"...



Ontem no Público, Miguel Esteves Cardoso escrevia este texto:

“Um casal nosso amigo vai ter uma filha em Novembro. Um electricista que foi a casa deles quis saber a data. Mal soube, deu-lhes os pêsames: "Coitada, vai ser escorpião".
Ainda a menina não nasceu e já lhe deram uma personalidade de que não escapará enquanto viver, porque a astrologia assim jura.
A astrologia não é uma "-logia" sequer. Não merece esse sufixo. O nome correcto do que se faz e afirma sob esse falso nome é astromania.
A astrologia é ideal para pessoas estúpidas e ignorantes que querem passar por sábias. Aprende-se uma dúzia de estereótipos e fica-se equipado para a vida.
É um método grosseiro de catalogação, que predefine as pessoas e dispensa o conhecimento profundo e demorado de cada uma.
A própria nomenclatura é suspeita. A astrologia chinesa funciona por anos (é mais boçal mas menos trabalhosa), mas os nomes são todos de bichos. Parece uma brincadeira de crianças em que tu és o macaco, eu sou o rato e a tua prima é uma cabra do pior.
Os escorpiões picam e envenenam. Se calhar foi nisso que o mestre astrólogo electricista estava a pensar. Os leões armam-se em reis da selva e os carneiros marram com prazer, ao contrário dos touros, que só marram porque são teimosos e foram provocados.
A astrologia é um estudo. Mas é um estudo para quem não é capaz de estudar outra coisa. É uma lista de preconceitos e de simplificações.
Cada vez mais há bestas que invocam a astrologia para justificar a dificuldade que têm em pensar.”

Em jeito de resposta, apetece-me dizer o seguinte:

Será que este senhor sabe que um curso completo de Astrologia tem a duração de 7 anos lectivos e que o estudo continua pela vida fora?

Será que este senhor já parou para pensar que a Astrologia foi a mãe da Astronomia?

Será que este senhor já leu alguma coisa sobre  "Os Fundamentos Cientificos da Astrologia" ?

Não me parece. Contudo, ele acha-se habilitado a formular uma opinião sobre o assunto. Baseada em quê? Pergunto eu. Como ouvi ontem num vídeo divertidíssimo (e aviso já que isto soava muito melhor em inglês): “As opiniões são como o buraco do cu. Toda a gente tem uma”.

Mas porquê? Porque razão têm a necessidade de dar opinião sobre temas que desconhecem? Porque razão não são capazes de dizer simplesmente “não sei nada sobre isso, vou investigar”?

O Miguel Esteves Cardoso é escritor, e um bom escritor. Acredito que em termos de escrita tenha grandes lições para nos dar a todos, já sobre Astrologia não é a pessoa indicada para nos esclarecer. Mas sendo um escritor e portanto um “fazedor de opinião”, ao escrever sobre um tema que desconhece, está a fomentar nos leitores opiniões erradas, deturpadas, pré-concebidas e infundadas, sem estimular qualquer espírito crítico verdadeiro. A isto eu chamo irresponsabilidade. O que ele está a fazer é “desinformação”.

Infelizmente ele não é o único que assim procede. Não faltam por aí aqueles, que num simples artigo ou entrevista, destroem sem apelo nem agravo, qualquer coisa que seja conotado de “alternativo”. Como se de uma missão se tratasse, e eles, quais cruzados imbuídos de espirito evangelizador, não tivessem outra opção que não seja a de difamar e denegrir, tudo o que (Deus nos livre) não é ensinado nos bancos da sacrossanta escola oficial.

Mas quem lhes terá confiado tal missão? Serão enviados divinos para nos afastar do pensamento livre?
Sim, porque pensar “fora da caixa” pode representar um perigo para mentes calcificadas que apenas aprendem “by the book” os conceitos, ideias e valores que a sociedade lhes enfia à martelada no cérebro, abdicando de qualquer espírito critico ou de análise sistémica da informação recebida.
Em vidas passadas, estas pessoas devem ter pertencido à Santa Inquisição e respectiva caça às bruxas, e mesmo muitas vidas depois, ainda não se desvincularam da ambição de serem “deus-na-terra”.

Temos pena, não são. E ou eu muito me engano, ou num futuro mais ou menos breve, algumas destas “sumidades” vão ter de engolir, palavra por palavra, tudo o que disseram sobre temas de que nada sabiam. E vai começar pelas terapias alternativas que já estão a ser regulamentadas em Portugal. Lá virá também o dia em que a Astrologia provará o seu valor. Não perdemos pela demora porque como disse Heráclito de Éfeso “A única constante do Universo é a mudança”, e o que hoje é tido como falso saber, amanhã poderá ser o saber que nos faltava. 

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Regresso às aulas... mas para que escola?


Em tempo de regresso às aulas, achei pertinente falar aqui um pouco de educação. Da que temos e da que deveríamos ter. Infelizmente a distância é grande entre as duas.

Na minha perspectiva, tudo começa pela educação. A construção de um mundo melhor passa, obrigatoriamente, pela educação das futuras gerações, que terão nas mãos a tarefa e a necessidade, de reinventar o mundo disfuncional em que vivemos actualmente. Nesse sentido, não basta ir à escola. É preciso que a escola cumpra a delicada missão de preparar as crianças e jovens de hoje para serem os cidadãos criativos, construtivos, participativos, conscientes e responsáveis de amanhã, sempre, sem lhes tolher a capacidade de sonhar. Porque tudo, mesmo tudo, o que existe, começou por ser apenas um sonho.

A escola precisa ensinar a pensar e não o que pensar. As crianças devem ser incentivadas a questionar, a brincar com e a interligar conceitos. O que temos actualmente é uma escola que impõe ideias e saberes e que não se permite ser questionada.

Todo o conhecimento deve ser continuamente questionado e revitalizado. As ideias bolorentas produzem um mundo aprisionado ao passado, ao que sempre foi. Se permitíssemos ser continuamente questionados e desafiados pelas nossas crianças e jovens, o mundo evoluiria a uma velocidade muito superior. O conhecimento tem de ser considerado como algo plástico, flexível, evolutivo e não como algo estático e intocável. Deve permitir-se aos jovens, com a sua frescura, trazerem luz sobre os pré-conceitos e as ideias feitas, contribuindo assim, para um conhecimento dinâmico e evolutivo.

A escola, enquanto instituição social, deve estar ao serviço dos mais jovens, e em última instância, da nação. É a escola que se deve adaptar às necessidades de aprendizagem e diversidade dos alunos, em lugar de impor um modelo massificado de ensino, no qual cada aluno, com as suas características, apetências e dons próprios, é forçado a encaixar-se.

Hoje, chegamos ao cúmulo de medicar as nossas crianças para que se adaptem a um modelo de ensino descaracterizado, doentio e disfuncional.

Para quem quiser ter como referência, um modelo de ensino, que promove o ser humano e a sua interligação harmoniosa com o mundo e com todos os seres, sugiro que pesquisem a obra de Rudolf Steiner e a Pedagogia Waldorf (livros, vídeos no youtube, etc…)