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quarta-feira, 26 de junho de 2013

Where is the love?...


A arte tem sido, ao longo dos tempos, uma das melhores e mais utilizadas formas de comunicação. Porque? porque a sua linguagem é universal.

Músicos, cantores, pintores, actores, poetas e escritores em geral, são mensageiros, muitas vezes de uma mensagem Superior, que nos chega, não deles mas através deles. Artistas de um modo geral, são embaixadores das qualidades humanas universais, presentes em todos nós, e muitas vezes, transmissores de grandes verdades, que nem sempre são entendidas pelo homem comum durante a vida do artista, vindo a ser entendidas apenas pelas gerações seguintes. Deste modo, os artistas também são por vezes motores da evolução humana.

É esse o verdadeiro valor da cultura, tantas vezes desvalorizada, e mesmo menosprezada, pelos governos e até pelo público, que prefere entretenimentos "fast-food" sem o mínimo de qualidade.

Um exemplo disso são as "canções da moda" que ficam no ouvido mas que nada nos acrescentam.

Por isso decidi colocar aqui um exemplo contrário. De uma canção cuja letra nos toca a todos, transmitindo uma mensagem que a todos diz respeito. 

A maioria de nós, na sua correria diária, reflexo de uma sociedade que privilegia o "fazer dinheiro" e o "consumir" em vez do ser, do aprender e de contemplar, até pode ouvir canções como esta mas não lhe presta a devida atenção. Por isso incluí também a letra para que leiam enquanto escutam. Espero que gostem e que se sintonizem com a mensagem transmitida. 




"Where is the Love?"

What's wrong with the world, mama
People livin' like they ain't got no mamas
I think the whole world addicted to the drama
Only attracted to things that'll bring you trauma

Overseas, yeah, we try to stop terrorism
But we still got terrorists here livin'
In the USA, the big CIA
The Bloods and The Crips and the KKK

But if you only have love for your own race
Then you only leave space to discriminate
And to discriminate only generates hate
And when you hate then you're bound to get irate, yeah

Madness is what you demonstrate
And that's exactly how anger works and operates
Man, you gotta have love just to set it straight
Take control of your mind and meditate
Let your soul gravitate to the love, y'all, y'all

People killin', people dyin'
Children hurt and you hear them cryin'
Can you practise what you preach
And would you turn the other cheek

Father, Father, Father help us
Send some guidance from above
'Cause people got me, got me questionin'
Where is the love (Love)

Where is the love (The love)
Where is the love (The love)
Where is the love, the love, the love

It just ain't the same, old ways have changed
New days are strange, is the world insane?
If love and peace are so strong
Why are there pieces of love that don't belong?

Nations droppin' bombs
Chemical gasses fillin' lungs of little ones
With ongoin' sufferin' as the youth die young
So ask yourself is the lovin' really gone

So I could ask myself really what is goin' wrong
In this world that we livin' in people keep on givin' in
Makin' wrong decisions, only visions of them dividends
Not respectin' each other, deny thy brother
A war is goin' on but the reason's undercover

The truth is kept secret, it's swept under the rug
If you never know truth then you never know love
Where's the love, y'all, come on (I don't know)
Where's the truth, y'all, come on (I don't know)
Where's the love, y'all

People killin', people dyin'
Children hurt and you hear them cryin'
Can you practise what you preach
And would you turn the other cheek

Father, Father, Father help us
Send some guidance from above
'Cause people got me, got me questionin'
Where is the love (Love)

Where is the love (The love)?
Where is the love (The love)?
Where is the love (The love)?
Where is the love (The love)?
Where is the love (The love)?
Where is the love (The love)?
Where is the love, the love, the love?

I feel the weight of the world on my shoulder
As I'm gettin' older, y'all, people gets colder
Most of us only care about money makin'
Selfishness got us followin' the wrong direction

Wrong information always shown by the media
Negative images is the main criteria
Infecting the young minds faster than bacteria
Kids wanna act like what they see in the cinema

Yo', whatever happened to the values of humanity
Whatever happened to the fairness and equality
Instead of spreading love we're spreading animosity
Lack of understanding, leading us away from unity

That's the reason why sometimes I'm feelin' under
That's the reason why sometimes I'm feelin' down
There's no wonder why sometimes I'm feelin' under
Gotta keep my faith alive 'til love is found
Now ask yourself

Where is the love?
Where is the love?
Where is the love?
Where is the love?

Father, Father, Father, help us
Send some guidance from above
'Cause people got me, got me questionin'
Where is the love?

Sing with me y'all:
One world, one world (We only got)
One world, one world (That's all we got)
One world, one world
And something's wrong with it (Yeah)
Something's wrong with it (Yeah)
Something's wrong with the wo-wo-world, yeah
We only got
(One world, one world)
That's all we got
(One world, one world)


quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sobre o poder da escolha...


Tenho falado bastante, nos últimos tempos, a propósito do poder da escolha. E este post é especificamente sobre as nossas escolhas e como através delas moldamos as nossas vidas.

Percebo, em muitos com quem falo, uma necessidade de mudança. Mas ao mesmo tempo um conflito interno entre essa necessidade e o apelo (reforçado pelo status-quo) para permanecer na  "zona de conforto", no já conhecido, no de sempre.

Pergunto-me sobre o que nos leva a repetir escolhas e padrões de escolhas de modo automático ou inconsciente sem nos questionar-mos se essas mesmas escolhas nos fazem ou não sentido? Se nos trazem, de facto, os melhores benefícios? Se nos fazem crescer como indivíduos? Se são as mais adequadas a nós?

Concordam que somos todos diferentes, certo? Então porque tendemos a "copiar" as escolhas que vemos os outros fazer? Porque razão rejeitamos com grande facilidade o que é diferente?

A evolução faz-se de mudanças, de saltos, de reviravoltas. Como esperamos que a evolução aconteça se continuarmos a fazer tudo igual? Se não nos expusermos, intencionalmente, ao que é diferente? Se não forçarmos as fronteiras do nosso "quintal"?

Somos um animal de hábitos, eu sei. Mas a questão que coloco é: -  de quem são os meus hábitos?

O que é que eu aprendo, ganho, cresço a ver um jogo de futebol? O que é que eu aprendo, ganho, cresço a ver telenovelas? O que é que eu aprendo, ganho, cresço a ver o Big Brother? - Pouco ou nada? Então porque continuo a escolher isso e não outra coisa? Quem é que manda em mim e nas minhas escolhas? Quem é que me "obriga" a fazer coisas que não me trazem nenhuma mais-valia e podem mesmo ser grandes perdas de tempo?

Ler um livro de Tolstoi, Vitor Hugo ou Eça de Queiroz continua a ser recomendado, e não digo que não seja interessante. Aprendemos sobre o passado e quase sempre constatamos que pouca coisa mudou. Um dos comentários mais ouvidos em relação aos clássicos da literatura é de que "continuam muito actuais". Todos já sabemos isto mas continuamos a ler e reler e recomendar os clássicos que falam do passado reflectido no presente. Porque não escolhemos leituras que sejam úteis no presente e ajudem a construir o futuro?
- Sim, eu sei, são os clássicos. Mas agora que sou adulto alguém me "obriga"?
- Mas é "cultura geral". 
- Quem é que decide sobre a minha "cultura geral" e como a devo construir? A quem entrego eu o meu poder de escolha sobre o que é e não é importante para mim?
- Será um clássico da literatura mais importante que um livro que me ajude a compreender quem eu sou e a construir a minha visão do mundo? Alguns podem dizer que são coisas distintas. Certo, mas porque razão o primeiro é incentivado e o segundo não?

Apesar de em menor quantidade, ainda como alguma carne, mas penso em breve tornar-me vegetariana. Mas a maioria de nós come carne todos os dias. E se tivéssemos de matar com as nossas próprias mãos um animal, de cada vez que queremos comer? Será que o faríamos? - A maioria não. Então porque continuamos a comer carne?

O planeta é de todos, certo? Sabemos o quão importante é respeitar e cuidar do meio ambiente. Hoje já existem no mercado várias marcas de detergentes biológicos tão eficazes como os outros e até mais baratos. Então porque continuamos a comprar skip?

Porque razão somos incapazes de questionar os nossos hábitos? Porque não temos a coragem de, a cada escolha, nos perguntarmos se estamos, mesmo, de acordo com ela?


"Quando te vires do lado da maioria desconfia"

"You were born original, don't die a copy"


domingo, 13 de novembro de 2011

Liberdade Vs Responsabilidade



O 25 de Abril deveria ter sido a porta de entrada para a Liberdade. A verdadeira Liberdade que, pressupõe sempre responsabilidade. Mas não. O 25 de Abril foi antes a porta para o abuso da liberdade, para a extravagância, para o desnorte. É natural que fosse assim porque um povo que nunca foi livre não sabe viver em liberdade. Um povo oprimido quando vê a primeira fresta aberta esgueira-se a alta velocidade sem parar para pensar em preparar-se para a liberdade.

Deviam ter ensinado nas escolas, durante os primeiros anos do pós 25 de Abril, o que significa ser livre e o que é que isso implica em termos de cidadania, em termos de respeito pelos outros e pelo país. Isso não foi feito e o resultado está à vista. A malta não soube ser livre. A malta abusou dessa liberdade e quis enriquecer a qualquer custo ou pelo menos aparentar riqueza. A malta esbanjou recursos (privados e colectivos), a malta invadiu as cidades em busca da riqueza e foi muitas vezes parar aos bairros de lata. A malta não cresceu, não aprendeu, não se desenvolveu como povo e como indivíduos. 

Não ficámos mais ricos (excepto alguns espertos), nem mais sábios, nem mais patriotas, nem mais desenvolvidos. Tornámo-nos um bando de "patos-bravos" a viver de expedientes e de espertezas e a por o dinheiro sempre em primeiro lugar. 

Tornámo-nos um povo sem alma, sem carácter. É o salve-se quem puder porque "o mundo é dos espertos". A inteligência, a cultura, a sabedoria não interessam. Interessa é ter uma vivenda e um bom carro e férias no Algarve todos os anos por mais estúpido que se seja. 

Importámos os hamburgueres, as pizzas e as modas acessíveis a todos, importámos as telenovelas e os auto-estradas, os yuppis  e outras fantochadas mas não sabemos ser livres nem o que isso significa.

Somos pouco criativos, vivemos mais de imitações do que de originais e valorizamos sobretudo o que vem de fora porque temos vergonha do que é nosso. Por essas e outras razões não investimos em nós como indivíduos nem no país que desprezamos e que deixamos à deriva nas mãos dos governantes, dos quais sistematicamente nos queixamos.

Não soubemos usar a liberdade para construir um país de que os nossos filhos se pudessem orgulhar. Somos o país do "vai-se andando". Sem a ambição de participarmos das forças colectivas que bem ou mal movem o país. Caímos no individualismo amorfo e improdutivo.

Não admira que aqueles que se sentem excepção à regra saiam do país em busca de fontes de reconhecimento e de enriquecimento pessoal. E não admira também que aqueles que não podem fazê-lo se sintam totalmente desancorados, desmotivados e deprimidos neste país de lamurias, queixumes e azedumes. 

Liberdade implica responsabilidade activa e participativa de todos e em todas as frentes. Esta é a revolução do 25 de Abril que ficou por fazer: a revolução das mentalidades. 
         

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Conhece-te a ti mesmo!


No seguimento do post anterior, vou aprofundar aqui um pouco mais, a ideia que lhe está subjacente: "Conhece-te e ti mesmo!" um aforismo cuja origem se perde no tempo, e que esteve na base da filosofia de Sócrates (o verdadeiro porque hoje em dia há imitações de tudo). 

Na Grécia antiga, nas escolas de mistérios, os estudantes eram incentivados a praticar,antes de mais nada, este preceito moral: conhecer-se a si próprio. Esse era o principio de tudo. Infelizmente, depois da queda do império romano  e de, no seguimento disso, a sabedoria antiga ter transitado para o Oriente, pérolas preciosas de ensinamento como esta simplesmente desapareceram da cultura ocidental. 

Na sociedade actual valoriza-se sobretudo a riqueza e a quantidade e qualidade dos bens que se possui, mas não O QUE SE É.

Deste modo, muitos nascem e morrem sem nunca saber quem foram ou o que vieram cá fazer.É triste!

Nas nossas escolas e nas nossas famílias não se ensina os mais novos a DESCOBRIREM-SE e a SEREM QUEM VIERAM PARA SER nesta vida. Em vez disso dá-se-lhes formulas já feitas, um leque curto de opções todas previamente formatadas e esquematizadas para encaixar no modelo social vigente. 

Este é um processo subtil, ao ponto de que, a criança ou adolescente nem se apercebe dele. A páginas tantas dá por si preso a um emprego de que não gosta, a um casamento que o faz sentir-se castrado, a filhos que não estava preparado para ter...e, mais ainda, a uma hipoteca da casa para a vida toda que condiciona tudo o resto.

Nessa altura já foi apanhado na "ratoeira" do Fazer e do Ter em detrimento do SER.

Então perguntamos-lhe quem é e responde coisas como:

- Sou engenheiro
- Sou marido/esposa de fulano(a) tal
- Sou dono da casa X
- Sou filho de fulano e fulana,  etc...

Ora, nada disto descreve quem se é, apenas o que se faz ou o que se tem!

Mas poucos se apercebem disto de forma plenamente consciente.

Conheço até muito boa gente que acha incrível que alguns de nós, eu incluída, invistam tanto em livros de auto-ajuda, desenvolvimento pessoal, filosofia etc.., que frequentem retiros espirituais ou que paguem a psicólogos e astrólogos.

Não é apenas um sinal dos tempos ou uma moda como outra qualquer. Não, é muito mais do que isso. É o ser humano a ir em busca de si próprio. E já que os antigos métodos de ensino filosófico se perderam, usam-se agora os que temos disponíveis.

Não pensem os mais iludidos que "Conhecer-se a si mesmo" não dá trabalho, nem inquietações. Pelo contrário, é preciso coragem, determinação, esforço e muitas vezes, atravessar um mar de dificuldades a que alguns chamam "a noite escura da alma".

Tudo isto para quê? Para nos tornarmos os SERES LIVRES que de facto, em essência, somos, para descobrirmos e exercermos a nossa verdade, para assumirmos o nosso PODER PESSOAL e o comando das nossas vidas, para criarmos EQUILÍBRIO mente-corpo-espírito e, em ultima instância para sermos FELIZES pois esse é o nosso direito inato.

Para terminar, deixo aqui uma citação, a mesma que inspirou este post, do empresário Manuel Forjaz, numa entrevista à revista Gingko:

"O normal seria que cada um de nós, tendo uma fonte interna de diversidade quisesse coisas diferentes. Por que os jovens pensam logo em trabalhar, comprar casa e carro? Por que anda tudo à procura do mesmo? Que viajem, façam vindimas, aprendam línguas, sejam inspiradores e revolucionários!"

Um bom conselho, na minha opinião!
   

terça-feira, 19 de abril de 2011

Propósito de vida


Partilho aqui um texto bastante interessante para reflectirmos sobre uma questão que considero bastante importante: - Quantos de nós estamos, de facto, a viver o nosso propósito de vida? Quantos de nós nos conhecemos suficientemente bem para saber que propósito é esse? Não andaremos apenas a viver a vida que vemos os outros viver? Agindo mais por imitação, por desejo de aceitação e de pertença do que por convicção própria e fidelidade a quem se é de verdade?

Convido-vos a lerem o texto AQUI e a pensarem no assunto (se quiserem) :-)

terça-feira, 25 de maio de 2010

Biodiversidade



Nunca fui muito "à bola" com a Teoria da Evolução, mas seja. Se a grande maioria dos cientistas está de acordo, quem sou eu para a pôr em causa?!...  Agora, o que eu gostaria que alguém me explicasse é que raio de evolução é esta que produz tantas espécies diferentes, quer de animais, quer de plantas, quer de minerais. Custa-me muito a crer na história do antepassado comum. Lamento mas essa é difícil de engolir. Já viram bem a quantidade de espécies diferentes que povoam este planeta? Seremos mesmo TODOS descendentes do mesmo embrião? E como se explica que o Ser Humano seja tão diferente de tudo o resto? Mais, como se explica que neste planeta existam não só os animais, as plantas e os humanos, mas também todas as condições quer alimentares, quer ambientais e climatéricas para a sua sobrevivência? Num só planeta temos milhões de espécies  e também temos a água, o solo, o sol e a chuva que permitem que todos os seus habitantes subsistam. Se isto não é magia pura então não faço ideia do que seja. É uma combinação perfeitíssima de múltiplos factores distintos. Por exemplo, se o planeta estivesse mais perto do sol é certo que esturricávamos mas, se por outro lado estivesse mais afastado, aí congelávamos. O que é que isto nos diz? De todos os planetas que já investigámos nenhum outro reúne as mesmas condições. Que sucedeu então? A Terra, no meio do turbilhão do Big Bang foi eleita o planeta vencedor? E sendo o Big Bang uma explosão, tudo isto de que falei é produto do caos, certo? Acham isso provável? 

Um planeta pode ter vida e ser apenas habitado por uma bactéria mas daí à multiplicidade de seres vivos que habitam este planeta vai uma grande distância. 

Agora imaginem que de facto a "Vida" tinha, em si mesma, alguma forma de inteligência. Assim sendo, já seria normal produzir o animal e o respectivo alimento, certo? Pois bem, nem mesmo isso explica porque é que a fruta não é só maçãs mas também bananas, morangos, mangas, figos, uvas, melão, nêsperas, ananás...

Mas continuando. Se esta "Vida Inteligente" quisesse tornar a coisa mais bonita, criaria também as flores, que podiam ser malmequereres, mas não, nós também temos as begónias, as tulipas, as orquídeas, os antúrios, as esterlicias, as rosas, as papoilas, os lirios, o jasmim e assim por diante... 

Visto de outra forma. O planeta podia ter vida e ser feio e inóspito mas não, por todo o lado na natureza a beleza é uma constante, quer nas cores, quer nas formas, quer nos aromas, quer no seu conjunto.

Será tudo isto fruto da evolução? É tudo isto um acaso? Seremos nós um acidente de percurso?


domingo, 15 de junho de 2008

Pensar a Medicina

Excerto do livro que estou a ler actualmente - “Loucos são os Outros” do Psiquiatra Jaime Milheiro, publicado no ano 2000 pela editora “Fim de Século”.


Pensar a Medicina

No fim do século mais científico da História, temos igualmente a impressão de estar no fim duma época quanto à teoria e prática da Medicina e quanto à concepção da Saúde/Doença. Por várias razões, mas sobretudo pelas bastante previsíveis e em vários ângulos anunciadas mudanças de entendimento sobre o modo de funcionar do ser humano, provindas de aprofundamentos recentes. Estaremos no fim duma época quanto às considerações fundamentais sobre o conjunto funcionante que cada indivíduo representa e também quanto ao que daí resultará sobre a prática clínica. Reflectir sobre isso interessa aos médicos, aos doentes, a toda a gente.

I

Como funciona o ser humano? Porque funciona o ser humano, o que o faz funcionar? Por estar vivo, por obedecer à fisiologia, aos princípios da vida...será uma resposta um tanto simplória, concordaremos, além de pouco estimulante para quem tiver a obrigação profissional de sobre isso reflectir. E o médico vê-se obrigado a fazê-lo, porque a sua prática diária vive impregnada de perguntas deste tipo, decorrentes: porque adoeceu aquela pessoa, porque se alterou o funcionamento que até então proporcionava sentimentos de Saúde, como se desmembrou tudo isso?

Evidentemente, é sempre possível evitar a reflexão, no médico ou no doente (pensar dói muitas vezes, ou é inútil), remete-se para um “isso não é comigo”, reduzindo a preocupação apenas à forma de tratar a úlcera ou a bronquite. É tentador afirmar: “sou um técnico, ou ... sou um doente... só me preocupo com isso.” Mas tentar corrigir o defeito do móvel sem pensar na interligação das gavetas , nem no movimento geral da sua construção, vai ser cada vez menos satisfatório, porque se vai sedimentando um sentimento natural de pesquisa em toda a gente. O refúgio banal de atribuir causalidades externas a tudo o que se passa, vai notoriamente perdendo terreno, na cultura. As doenças obedecerão, nesse tipo de pensamento, na realidade efectiva ou na realidade simbólica, ao esquema bacteriano descoberto por Pasteur: vêm de fora. Extrapolando das bactérias propriamente ditas, para muitas outras razões análogas habitualmente utilizadas, as doenças, neste modelo “bacteriano”, serão produto dum corpo estranho, dum invasor, gerador da “infecção” naquele órgão. Competirá à medicina, como objectivo final, a esforçada descoberta do antibiótico suficientemente eficaz para o liquidar. Temos todos (médicos, doentes e candidatos a esses dois estados) este esquema de tal forma montado dentro de nós, apreendêmo-lo e conservámo-lo com tal intensidade, que sem darmos por isso constantemente o supomos e utilizamos. Mesmo em circunstância onde é totalmente absurdo fazê-lo. Verdadeiro automatismo ou reflexo condicionado, com enorme sucesso em múltiplas situações, na medicina, na cirurgia, desse sucesso colhemos apressada justificação para continuar.

Mas hoje não chega obviamente erradicar a bactéria, ou carpinteirar o órgão.

II

Essas leituras, extremamente parcelares, vêm sendo substituídas progressivamente por outras que procuram estudar, compreender e tratar o doente sem o excluir da doença, na génese, no trajecto e na finalização. A doença deixa de ser um corpo estranho, uma “bactéria” hospedada num “órgão”, susceptível de ser posta na rua, para ser considerada um processo geral psicossomático. Sempre!

As grelhas de pensamento que proporcionaram ciências actuantes na brilhante “medicina do órgão” que temos vindo a conhecer, as tecnologias aplicadas à terapêutica que muito justificadamente têm espantado a humanidade e vão continuar a fazê-lo, vêm-se hoje obrigadas a essa enorme revisão. É que os avanços definidos pelas linhas que marcaram o nosso tempo, se afunilaram numa faixa cada vez mais estreita e se afastaram muitíssimo do sofrimento próprio do portador individualizado. Excessivamente cega, impessoal, essa faixa encaminhou-se na prática para o maquinal ossificado, que, embora tecnicamente perfeito, ultrapassou o risco vermelho e quase caiu em zona de completa artificialidade. Tornou-se ao mesmo tempo muito complacente de si mesma, nada do doente, escurecendo-se cada vez mais no computador, se não houver correcção de rota. Conhecimentos e desenvolvimentos não põem em causa a sua validade, mas questionam a sua possibilidade de integração no conjunto da Pessoa. Áreas múltiplas, nas ciências físicas, nas ciências humanas, nas ciências psicológicas, no infinitamente pequeno, na vertente orgânica mensurável em grupo e susceptível de comparação, na vertente mental incomparável entre indivíduos, têm aberto portas impensáveis até há pouco. Verifica-se hoje que, muito mais do que as partes ou a soma delas, a grande questão é o funcionamento global interior, com regras e princípios essenciais, mal conhecidos ainda, mas em pleno movimento de descoberta.

Nessa encruzilhada nos encontramos hoje, na encruzilhada da globalização. Curiosamente, retorna-se desse modo à medicina anterior a este século, à medicina anterior à “medicina de órgão”, conduzindo no entanto na bagagem a ciência entretanto adquirida.

III

Cada novo processo terapêutico, mesmo eficaz, terá sempre efeito temporário porque não invalida o funcionamento descompensado, físico ou mental, que dentro de si o doente contém e a doença sinaliza. A terapêutica adia, compensa ou substitui, mas nada resolve se os mecanismos interiores, fisiológicos, psicológicos, não forem alterados. Comprova-se agora o que toda a gente sabia, mas a cultura deste século ilusoriamente procurou desfazer: consertar por um lado equivale a romper por outro, se nada mudar no contexto da pessoa. A ciência médica inúmeras vezes esqueceu isto, junto de si própria e junto dos doentes, nas famílias, na opinião pública, mais vincadamente ainda na tão propagandeada “medicina de ponta”. Culturalmente intoxicados, por conceitos terapêuticos grandiosos e por secreto desejo de imortalidade, todos embarcamos alegremente nessa cumplicidade e participamos altivamente nos milhões gastos em zonas inúteis, ou no benefício duma industria farmacêutica cada vez mais voraz e lucrativa. Há uma enorme desproporção entre o aproveitamento afectivo e a justa racionalidade nos objectivos terapêuticos, que inconscientemente se alimenta, ou sobrealimenta, no dia-a-dia. Ter consciência disso, dizê-lo abertamente, só pode ser útil e pedagógico, embora por norma se faça justamente o contrário para não ferir o estabelecido.

IV

A angustia médica é quase sempre idêntica à do doente, nessa procura excessiva. Por isso o médico colabora prazenteiramente e desagua no “sou técnico...nada mais do que isso”. Cumpridas da sua parte as baterias sobre estômagos, corações ou cérebros, segundo a arte, nada mais se lhe poderá pedir ou assacar. É tentador e muito mais fácil. Pragmatismos deste tipo servem e tranquilizam, em ambas as direcções.

Estamos na verdade de tal forma condicionados pela tecnologia, pela noção bacteriana da doença, pela busca do “antibiótico” físico ou mental, pelo isolamento do órgão, que em muitos locais, até os processos sistémicos já bem conhecidos são vistos deformadamente como novos órgãos! Como se fossem outros órgãos. O sistema imunitário, por exemplo, global e globalizador, movido emocionalmente, “psico-imunitário” como tudo indica, é muito facilmente considerado por muitos outro órgão, que se divide e isola. Atribuem-se-lhe nesse caso as funções específicas clássicas, contrariando tudo o que dele já se sabe como “gestor” das razões íntimas da pessoa, com influências bem conhecidas na génese de muitas doenças, cancro incluído.

V

O narcisismo pessoal ou profissional verte-se muitas vezes no discurso megalómano de ilusões, ao certificar a pequenez e a limitação que nos caracteriza.

Toda a ciência médica está a evoluir implacavelmente, no sentido que referimos. Mas, como sempre aconteceu na história das ciências e das ideias, os avanços acarretam perdas, sobretudo perdas de ilusões, quando obrigam a novas leituras. Mudam necessidades, são por isso bastante difíceis de instalar.”



Há tempos escrevi aqui alguns artigos sobre “Saúde Integral” onde abordei, do modo limitado que é possível a um leigo fazê-lo, alguns destes temas. É pois com especial prazer e contentamento, que publico agora este texto de um reconhecidíssimo Psiquiatra português.

Não posso deixar de sentir um misto de alegria e alívio, ao constatar a existência de personalidades como a de Jaime Milheiro, atentas, questionadoras, interventivas e transformadoras das leituras e mentalidades, que por vício ou preguiça, se instalaram e cristalizaram perigosamente, ao longo dos tempos na nossa sociedade.

Mudanças são necessárias e urgentes, todos o reconhecemos, mas elas não se fazem se não pusermos em prática a capacidade questionadora que Deus nos deu. A todos!

Bem-haja Dr. Jaime Milheiro, entre outras coisas, pela lição de coragem e de ousadia sempre necessárias nos processos de mudança, mas também pela pertinência de um texto ao qual ninguém pode ficar indiferente.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Sobreviver à Ciência


Não, não estamos no mês de "bater-na-ciência" mas vem a propósito.

Este é um LIVRO que descobri recentemente, da autoria de Jean-Jacques Salomon, editado pela "Instituto Piaget Editora".

Uma reflexão que merece ser lida e da qual deixo aqui a sinopse para abrir o apetite:


"Pode-se estabelecer um paralelo entre o século XVI e a nossa época do limiar do século XXI. O século XVI e o século XX assistiram a transformações, guerras e tumultos, e neles se jogou, além do destino da Europa, uma certa ideia do homem. Em ambos, houve uma procura de novas convicções, no primeiro, a transição da Idade Média para o Renascimento e, no segundo, a transição da idade da indústria para a civilização do imaterial, do virtual. De uma época para a outra, passou-se de um mundo onde a imagem de Deus era omnipresente para outro em que desapareceu a própria ideia de Deus; de uma crença numa vida para além da morte, para uma ausência de recurso para as injustiças ou os sofrimentos da vida, que a fé na ciência tenta em vão substituir. Esta religião da ciência e do progresso, que surgiu com a revolução industrial, desenvolveu-se principalmente a partir da Segunda Guerra Mundial. A partir desta altura houve uma mudança considerável do estatuto do cientista. Até então os sábios (como eram chamados) viviam numa espécie de torre de marfim, trabalhando em pesquisas «puras», cujas aplicações não lhes diziam respeito. [...] Estamos no fim de uma época, mas não no fim da história. A ciência aumentou sem dúvida o bem-estar pelo menos de uma parte da humanidade, mas ao mesmo tempo cava-se um fosso cada vez maior entre países ricos e países pobres e entre populações dentro de um mesmo país. É preciso criar um mundo novo, um mundo em que a procura do bem-estar social (isto é, para toda a sociedade) se sobreponha à ideologia do progresso custe-o-que-custar e às miragens por ela fabricadas. Sobreviver à ciência é voltar a um humanismo guiado pelo princípio de precaução, que nos permita afrontar o novo século XXI como se este fosse um novo Renascimento."

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Descascando a Cebola

Diz-se que nos assemelhamos a uma cebola, cujo centro se encontra envolvido por camadas e camadas de protecção. Significaria isto que quando interagimos com o outro o fazemos através da nossa “casca” exterior. Será esta a explicação para o facto de estabelecermos relações superficiais? Relações em que nos tocamos ao nível das nossas “cascas” mas nunca, ou raramente, ao nível dos nossos “centros”? Será o “factor cebola” – como resolvi chamar-lhe, que nos impede de uma verdadeira intimidade com o outro? Não, não estou a falar desse tipo de intimidade. Acho até que o sexo é muitas vezes usado para fingir a existência de verdadeira intimidade. Claro que o sexo implica uma boa dose de intimidade física mas eu falo da outra, da intimidade emocional. Aquela em que, para além do corpo, são as próprias almas que se tocam. Alguns de nós, em algum momento das nossas vidas, já fomos abençoados com essa maravilhosa experiência. Descrevemo-la como uma emoção profunda e inexplicável. Sabemos que é possível, sabemos que existe e sabemos mais: sabemos que as nossas “cascas” podem ter diferentes cores, texturas, aparências mas o núcleo, o centro, a essência que habita em cada um de nós, essa é universal. Sabemos tudo isto mas ainda temos medo. Camadas e camadas de medo acumulado na nossa memória celular. Assim, vamos mantendo o nosso núcleo o mais escondido possível (até de nós próprios muitas vezes). É uma defesa, claro mas será útil? Talvez o tenha sido no passado mas continuará a sê-lo? O que aconteceria se todos, ainda que de modo gradual, fossemos descascando as nossas “camadas” de medo, que se manifestam sob a forma de arrogância, prepotência, frieza, superioridade, indiferença ou manipulação, revelando ao mundo a nossa verdadeira natureza? Como seriam então as relações entre parceiros, amigos, familiares, países...? Como seria?

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

A Dor


Vivemos num mundo de opostos: o dia e a noite, a chuva e o sol, o bem e o mal e assim por diante; mas todos procuramos o lado bom da vida. Fomos ensinados assim, a viver sempre na expectativa do melhor e a celebrar os momentos risonhos com pompa e circunstância. Mas então e a dor? Ninguém nos ensinou a celebrar a dor. Melhor dito, ninguém nos ensinou a processar a dor, a passar por ela, a aprender com ela e finalmente a ultrapassá-la. Assim, como não sabemos o que fazer com ela, regra geral, disfarçamo-la.
Serve quase tudo desde rir, ir ao cinema, ir às compras, ir a uma festa...enfim, tudo menos sentir a dor, ouvi-la e perceber o que ela nos pede.
Perdemos deste modo muitas oportunidades de saber o que a dor tem para nos dar.
Do meu ponto de vista a dor tem inúmeras funções, nomeadamente, devolver-nos à nossa condição essencial de seres humanos, fazendo-nos encarar e aceitar as nossas fragilidades. Não creio, contudo, que passar pela dor seja obrigatoriamente sinónimo de sofrimento e auto-comiseração, pelo contrário, acho que é uma forma de promovermos o auto-respeito e o senso de humildade. Acredito ainda, que se aprendêssemos finalmente a vivênciar a dor, não como uma coisa má mas como algo que faz parte da experiência de vida de todos nós, haveria certamente maior sinceridade, abertura e compaixão nas relações humanas.
Enquanto tal não acontece, vivemos numa sociedade onde a dor cresce amordaçada. Não é pois de admirar que de vez em quando, a dor de alguém, inteira e nunca tratada, rebente como um grito calado por muito tempo, sob a forma de tiroteio, suicídio ou ataque de coração.
Dar atenção à dor não é preservá-la, é antes dar-lhe sentido e usá-la em nosso favor para que nos conduza até às nossas feridas mais profundas, pois só indo lá, onde dói, poderemos promover a cura.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

A Importância do Vazio

“Se moldares uma chávena, terás de fazer uma concavidade: É o vazio no seu interior que a torna útil.”
Tao Te Ching

“Introduzida pelo próprio Einstein em 1917 e mais tarde posta de lado (chamou-lhe o seu “maior erro”), a energia negra ou a energia do nada ou do espaço vazio está agora a reemergir como a força motriz de todo o universo. Acredita-se hoje que toda esta energia negra cria um campo de antigravidade que afasta as galáxias umas das outras.”

Michio Kaku in “Mundos Paralelos”




Ao contrário do que nos diz a ancestral sabedoria oriental e as recentes descobertas da física sobre a organização do universo, nós, ocidentais, temos a tendência para viver atulhados de coisas. Quanto mais melhor. Roupa, sapatos, acessórios, telemóveis, mobília, biblôs, adereços, comida, electrodomésticos, jornais, revistas, livros, CD’s, pensamentos, compromissos, eventos, distracções, ambições e até pessoas... tudo e mais um par de botas!
Coleccionamos todas estas coisas nas nossas vidas como se o nosso sucesso, a nossa felicidade ou o nosso valor intrínseco se medisse pela quantidade de coisas que possuímos. Vivemos uma fome crónica de Ter e nunca estamos saciados.
Como poderemos nós usufruir e desfrutar das coisas mais significativas da vida se não lhes oferecemos espaços vazios que as realcem, que permitam o seu movimento, o seu fluir, na nossa casa, nos nossos armários, nas nossas mentes e nos nossos corações?
O paradoxo de tudo isto é que nos enchemos de coisas para preencher um vazio, uma espécie de buraco negro que trazemos no peito. Falta-nos algo mas não sabemos bem o quê. Por isso, empanturramo-nos com um pouco de tudo o que o mundo moderno nos pode dar. A má notícia é que o buraco negro continua lá apesar de todo o entulho com que nos inundamos. Com este nosso comportamento conseguimos apenas esgotar a nossa energia, ficar cada vez menos leves e cada vez mais escravos do Ter. Será que algum dia teremos a coragem de inverter o rumo das coisas para o lado do Ser?

quinta-feira, 22 de março de 2007

Caminhos


Muitos são os caminhos, poucos são os que nos levam onde queremos. Escolher um caminho é das coisas mais difíceis de fazer, e no entanto, fazemo-lo todos os dias. Mesmo sem notarmos isso estamos sempre a fazer escolhas, das mais simples às mais complexas. Onde nos levam os caminhos que escolhemos é coisa que não nos é dado a saber antecipadamente. Vamos andando...como se diz. Ainda assim, creio que para um mesmo destino na nossa vida temos, tal como numa estrada, várias hipóteses à nossa escolha. Às vezes são caminhos principais, outras são atalhos ou mesmo desvios. Às vezes são ruas estreitas e apertadas outras vezes são auto-estradas. Mas será que o caminho é importante? Não será antes a forma como nos relacionamos com o caminho o que mais importa? Há quem discorde e diga que o que importa é chegar ao destino que se pretende, eu acho que o mais importante é saber tirar partido do caminho que se escolhe e deixarmo-nos surpreender pela paisagem, pelas pessoas, pelo clima do caminho escolhido. E depois?... bem, depois logo se vê. Até porque a vida também tem rotundas e encruzilhadas que nos permitem optar, voltar atrás, ou seguir em frente. O que importa mesmo é fazer o caminho e ligarmo-nos a ele como o condutor se liga ao seu carro. Qualquer caminho, por mais acidentado e penoso que seja traz-nos sempre algo de bom se estivermos atentos.