quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Deus no Sec.XXI e o Futuro do Cristianismo


Livro escrito por vários autores de diversas áreas do saber, entre as quais, sociologia, genética, neurobiologia, filosofia, teologia, psiquiatria e bioética entre outras. Aborda temas como os Desafios à Humanidade e ao Cristianismo, o Predomínio da Imagem e a Pobreza Simbólica ou o Diálogo Ciência-Fé na Actualidade.


A titulo de exemplo sobre o tipo de questões levantadas neste livro, deixo um pequeno excerto:

"Na medida em que somos feitos pelo meio-ambiente em que vivemos, mas, simultaneamente, somos nós que fazemos esse meio, parece ser vital não perder de vista aquilo que se poderia designar por construção do mundo interior de cada pessoa. Porque cada pessoa é um mundo, mais ou menos viçoso ou desértico, mais ou menos organizado ou caótico, mais ou menos respirável ou intoxicado.
A interioridade, a espiritualidade, a densidade da vida interior carece de ser cuidada e desenvolvida, sob pena de se diluir na exterioridade e, consequentemente, se esvaziar.
Como pode querer-se a comunicação se a originalidade e especificidade de quem participa no acto comunicativo não existem ou são a mera clonagem dos ares do tempo? Como se pode verdadeiramente ver a exterioridade - para além da ofuscação e do espectáculo ambientes - sem a luminosidade interior? Como dar sentido ao magma informativo e ao caudal dos conhecimentos, sem a aposta na procura da sabedoria? Como se pode aguentar e edificar a nossa "tenda" no meio do ruído que nos cerca sem a capacidade de fazer silêncio e de escutar?"

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

A Dor


Vivemos num mundo de opostos: o dia e a noite, a chuva e o sol, o bem e o mal e assim por diante; mas todos procuramos o lado bom da vida. Fomos ensinados assim, a viver sempre na expectativa do melhor e a celebrar os momentos risonhos com pompa e circunstância. Mas então e a dor? Ninguém nos ensinou a celebrar a dor. Melhor dito, ninguém nos ensinou a processar a dor, a passar por ela, a aprender com ela e finalmente a ultrapassá-la. Assim, como não sabemos o que fazer com ela, regra geral, disfarçamo-la.
Serve quase tudo desde rir, ir ao cinema, ir às compras, ir a uma festa...enfim, tudo menos sentir a dor, ouvi-la e perceber o que ela nos pede.
Perdemos deste modo muitas oportunidades de saber o que a dor tem para nos dar.
Do meu ponto de vista a dor tem inúmeras funções, nomeadamente, devolver-nos à nossa condição essencial de seres humanos, fazendo-nos encarar e aceitar as nossas fragilidades. Não creio, contudo, que passar pela dor seja obrigatoriamente sinónimo de sofrimento e auto-comiseração, pelo contrário, acho que é uma forma de promovermos o auto-respeito e o senso de humildade. Acredito ainda, que se aprendêssemos finalmente a vivênciar a dor, não como uma coisa má mas como algo que faz parte da experiência de vida de todos nós, haveria certamente maior sinceridade, abertura e compaixão nas relações humanas.
Enquanto tal não acontece, vivemos numa sociedade onde a dor cresce amordaçada. Não é pois de admirar que de vez em quando, a dor de alguém, inteira e nunca tratada, rebente como um grito calado por muito tempo, sob a forma de tiroteio, suicídio ou ataque de coração.
Dar atenção à dor não é preservá-la, é antes dar-lhe sentido e usá-la em nosso favor para que nos conduza até às nossas feridas mais profundas, pois só indo lá, onde dói, poderemos promover a cura.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

A Importância do Vazio

“Se moldares uma chávena, terás de fazer uma concavidade: É o vazio no seu interior que a torna útil.”
Tao Te Ching

“Introduzida pelo próprio Einstein em 1917 e mais tarde posta de lado (chamou-lhe o seu “maior erro”), a energia negra ou a energia do nada ou do espaço vazio está agora a reemergir como a força motriz de todo o universo. Acredita-se hoje que toda esta energia negra cria um campo de antigravidade que afasta as galáxias umas das outras.”

Michio Kaku in “Mundos Paralelos”




Ao contrário do que nos diz a ancestral sabedoria oriental e as recentes descobertas da física sobre a organização do universo, nós, ocidentais, temos a tendência para viver atulhados de coisas. Quanto mais melhor. Roupa, sapatos, acessórios, telemóveis, mobília, biblôs, adereços, comida, electrodomésticos, jornais, revistas, livros, CD’s, pensamentos, compromissos, eventos, distracções, ambições e até pessoas... tudo e mais um par de botas!
Coleccionamos todas estas coisas nas nossas vidas como se o nosso sucesso, a nossa felicidade ou o nosso valor intrínseco se medisse pela quantidade de coisas que possuímos. Vivemos uma fome crónica de Ter e nunca estamos saciados.
Como poderemos nós usufruir e desfrutar das coisas mais significativas da vida se não lhes oferecemos espaços vazios que as realcem, que permitam o seu movimento, o seu fluir, na nossa casa, nos nossos armários, nas nossas mentes e nos nossos corações?
O paradoxo de tudo isto é que nos enchemos de coisas para preencher um vazio, uma espécie de buraco negro que trazemos no peito. Falta-nos algo mas não sabemos bem o quê. Por isso, empanturramo-nos com um pouco de tudo o que o mundo moderno nos pode dar. A má notícia é que o buraco negro continua lá apesar de todo o entulho com que nos inundamos. Com este nosso comportamento conseguimos apenas esgotar a nossa energia, ficar cada vez menos leves e cada vez mais escravos do Ter. Será que algum dia teremos a coragem de inverter o rumo das coisas para o lado do Ser?