segunda-feira, 31 de março de 2008

Grandes Erros da Ciência

Há dias comprei o número especial da Scientific American, edição brasileira, sob o título " Os grandes erros da ciência"

Sob o titulo podemos ler a frase: "Na actividade cientifica, errar é a regra, não a excepção. Só aceitando esse facto, o conhecimento pode avançar."

Isto parece-me importante ser dito e como diria o BB - "há que dizê-lo com frontalidade."

Foi com esse espírito de frontalidade que o editor escreveu no editorial da referida revista, o que a seguir transcrevo:

"O território e o mapa

A aventura do conhecimento é um processo assimptótico(1) infinito. Assimptótico(1) porque nos aproximamos, cada vez mais, da meta planejada. Infinito porque jamais a alcançamos. Por melhores que sejam nossas representações da realidade, o real, ele mesmo, encontra-se sempre um passo adiante. E, sucessivamente desvelado, ainda esconde, sob incontáveis véus, sua fugidia nudez.

A aventura do conhecimento é um processo errático e dissipativo. A frase que inicia o parágrafo anterior talvez seja, também ela, uma imagem falsa – ou, no melhor dos casos, apenas meia verdade. Pois sugere uma linearidade, um carácter necessariamente progressivo, que a empreitada do conhecimento, de fato, não tem. Caminhamos às apalpadelas. E os conceitos que construímos ontem, e descartamos hoje com desdém, talvez tenham de ser retomados amanhã, em uma nova curva da espiral evolutiva. O escritor Arthur Koestler comparou a actividade científica ao sonambulismo, demonstrando, com exemplos superlativos, que o avanço da ciência ocorreu, muitas vezes, a despeito das mais caras convicções dos seus protagonistas ou até mesmo contra elas.

A impossibilidade de atingir a verdade absoluta é inerente à actividade racional, e repousa na dicotomia entre o sujeito (o observador) e o objecto (o observado) – dicotomia que se mantém mesmo quando o objecto em pauta é a própria subjectividade. Enquanto persistir a mais ténue barreira entre o observador e o observado, a ciência será sempre uma obra inacabada, precária, provisória. Por isso, na práxis científica, o erro é a regra e não a excepção, um constituinte fundamental e não mero acidente de percurso.
Por isso, também, a reflexão sobre o erro nos ensina mais sobre a natureza da ciência do que a exaltação triunfalista de seus êxitos.

Dedicada a grandes erros, cometidos por grandes cientistas, esta edição posiciona-se claramente a favor da ciência, e não contra. A ciência não é apenas uma actividade vital para a sobrevivência e o desenvolvimento da humanidade. É também uma das mais belas produções da inteligência humana. Mas somente a aceitação de seu carácter limitado, parcial e incerto pode impedir que se transforme em um fossilizado sistema de crenças.

Na concepção e execução deste número especial de SCIENTIFIC AMERICAN, inteiramente produzido no Brasil, contamos com a inestimável colaboração de Roberto de Andrade Martins, considerado, com justiça, um dos maiores historiadores da ciência do país. A ele e a todos os autores que, sob sua competente coordenação, tornaram esta edição possível, nossos sinceros agradecimentos."

José Tadeu Arantes, editorScientific American-Brasil

Por isso amigos, questionem. Não se "encostem" em supostas "verdades absolutas" porque elas não existem.

(1) "A palavra assimptótico deriva do grego asymptotos que possui o significado de "não coincidente". É conhecido o termo "assimptota" para designar a recta que, em relação a uma determinada curva, se lhe aproxima indefinidamente mas sem que haja a possibilidade de ambas virem a coincidir. Ao que parece o termo surge pela primeira vez a propósito da hipérbole y2 - x2 = 1, e das suas assimptotas y = x e y = - x."

6 comentários:

Fernando Dias disse...

Olá Pink, retribuo a saudação amiga. Não há dúvida nenhuma que a ciência tem aprendido muito com os erros. :))

Manuel Rocha disse...

Hummm...vejo que finalmente foram interrompidas ( e bem ) as férias de blogar...:)

Olá Pink !

Fátima Lopes disse...

Olá F. Dias, Olá Manuel

É bom encontrá-los de novo. (É estranho como nos ligamos à presença de pessoas que nem conhecemos mas que de algum modo se-nos tornaram familiares!...enfim, a natureza humana é complexa, e talvez por isso, tão fascinante.)

Um abraço a ambos

Pink

alf disse...

Tenho de ir ver este número da SA. Para ver se percebo a ideia por detrás.

Noto a pressa em avançar uma explicação para o erro em ciência - que resultaria da dicotomia ente observador e observado. Ora isso não é verdade. A verdade é que a actual metodologia científica conduz ao erro, como tenho tentado mostrar em alguns posts.

Será a preparação para a admissão do grande erro do aquecimento global? é só uma questão de tempo terem de o admitir, afinal o oceano ainda não subiu nem um cm dos vários metros que alguns diziam que iria subir... e a temperatura média global há 7 anos consecutivos que desce...

É claro que isto é um pau de dois bicos - não faltarão agora os que virão afirmar que a única coisa infalível é a religião... e como o que muita gente quer é certezas, vamos ter um recrudescer da religião por certo.

alf disse...

Esqueci-me de te dar os parabéns pela reentré! o teu post é mais oportuno do que pensarás, vê o meu próximo post.

Fátima Lopes disse...

Olá Alf,

Obrigada pela visita no meu regresso :)

Pois eu acho que a dicotomia ente observador e observado tem mais implicações do que se julga actualmente. E a questão da metodologia não está totalmente dissociada dela.

Quanto a um possível ressurgimento da religião, ele vai mesmo acontecer, se bem que, sob novas perspectivas. A religião organizada carece de uma profunda transformação, as pessoas começam a procurar outras formas de exercerem a sua espiritualidade. Mas sim, o império da razão está a dar as últimas Alf. Como eu tenho aqui referido em vários post’s, tudo se processa em ciclos. Quando um ciclo chega no seu limite dá-se início a um ciclo contrário. A questão é que estes ciclos não são circunferências mas antes espirais. Por isso, ainda que nos pareça estarmos a retroceder, na verdade não estamos. Este regresso à espiritualidade já nada terá de semelhante com o obscurantismo da Idade Média, é apenas o fruto do reconhecimento de que a razão pura e dura não chega para alimentar os nossos impulsos evolutivos. Haverá pois uma tendência crescente para unir e harmonizar polaridades até aqui divergentes. Ainda não é “palpável” esta transformação porque ela é ainda embrionária mas hoje tudo avança muito rapidamente pelo que, creio eu, dentro de algumas décadas já começaremos a ver o início desta tendência.

Um abraço

Pink