O 25 de Abril deveria ter sido a porta de entrada para a Liberdade. A verdadeira Liberdade que, pressupõe sempre responsabilidade. Mas não. O 25 de Abril foi antes a porta para o abuso da liberdade, para a extravagância, para o desnorte. É natural que fosse assim porque um povo que nunca foi livre não sabe viver em liberdade. Um povo oprimido quando vê a primeira fresta aberta esgueira-se a alta velocidade sem parar para pensar em preparar-se para a liberdade.
Deviam ter ensinado nas escolas, durante os primeiros anos do pós 25 de Abril, o que significa ser livre e o que é que isso implica em termos de cidadania, em termos de respeito pelos outros e pelo país. Isso não foi feito e o resultado está à vista. A malta não soube ser livre. A malta abusou dessa liberdade e quis enriquecer a qualquer custo ou pelo menos aparentar riqueza. A malta esbanjou recursos (privados e colectivos), a malta invadiu as cidades em busca da riqueza e foi muitas vezes parar aos bairros de lata. A malta não cresceu, não aprendeu, não se desenvolveu como povo e como indivíduos.
Não ficámos mais ricos (excepto alguns espertos), nem mais sábios, nem mais patriotas, nem mais desenvolvidos. Tornámo-nos um bando de "patos-bravos" a viver de expedientes e de espertezas e a por o dinheiro sempre em primeiro lugar.
Tornámo-nos um povo sem alma, sem carácter. É o salve-se quem puder porque "o mundo é dos espertos". A inteligência, a cultura, a sabedoria não interessam. Interessa é ter uma vivenda e um bom carro e férias no Algarve todos os anos por mais estúpido que se seja.
Importámos os hamburgueres, as pizzas e as modas acessíveis a todos, importámos as telenovelas e os auto-estradas, os yuppis e outras fantochadas mas não sabemos ser livres nem o que isso significa.
Somos pouco criativos, vivemos mais de imitações do que de originais e valorizamos sobretudo o que vem de fora porque temos vergonha do que é nosso. Por essas e outras razões não investimos em nós como indivíduos nem no país que desprezamos e que deixamos à deriva nas mãos dos governantes, dos quais sistematicamente nos queixamos.
Não soubemos usar a liberdade para construir um país de que os nossos filhos se pudessem orgulhar. Somos o país do "vai-se andando". Sem a ambição de participarmos das forças colectivas que bem ou mal movem o país. Caímos no individualismo amorfo e improdutivo.
Não admira que aqueles que se sentem excepção à regra saiam do país em busca de fontes de reconhecimento e de enriquecimento pessoal. E não admira também que aqueles que não podem fazê-lo se sintam totalmente desancorados, desmotivados e deprimidos neste país de lamurias, queixumes e azedumes.
Liberdade implica responsabilidade activa e participativa de todos e em todas as frentes. Esta é a revolução do 25 de Abril que ficou por fazer: a revolução das mentalidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário